Oh meu bom Deus! Estou tremendo só de pensar em escrever essa resenha. E eu falo isso por que nada do que eu escrever aqui vai ser suficiente pra demonstrar nem um terço da efusão de sentimentos que eu tive. Primeiro que uma história relacionada à vida da minha escritora preferida não poderia resultar em menos do que lágrimas. De alegria, de tristeza, de compaixão... e também pelo fato de que se ao menos metade desses fatos realmente aconteceram, meu coração se consola, por que mesmo em meio a tantas dificuldades ela foi amada verdadeira e profundamente... e é o mínimo que ela merecia!



“Jane diz, nas primeiras páginas deste livro de memórias, que está escrevendo para “...ter algum registro do que aconteceu, para evitar que a lembrança desvaneça nos recônditos da minha mente, e dali desapareça para sempre da história...”

     Certa vez, durante uma importante reforma em uma das casas pertencentes à Jane Austen, em Chawton, Hampshire, na Inglaterra, um dos operários descobriu um baú escondido no telhado do sótão, que para a surpresa de todos, estava repleto de manuscritos antigos e um anel antigo trabalhado em ouro e rubi. Os arquivos, que na verdade eu prefiro chamar de relíquias, eram documentos e fatos escritos ao final do século XVIII e início do XIX e foram declarados autênticos, de autoria da própria escritora. Assim, encarregada de contar para o mundo toda aquela riqueza da melhor maneira possível, a Dra. Mary I. Jesse, Ph. D em literatura inglesa pela universidade de Oxford e também presidente da Fundação Literária Jane Austen, tem a missão de estudar os manuscritos, que foram escritos de maneira coloquial e carregados de interjeições, representando verdadeiramente os sentimentos de Jane e de todos que viviam com ela, até seus últimos dias.  



“Não é concebível que uma mente ativa e um olhar e ouvido atento, combinados a uma imaginação vívida, possam produzir uma obra literária de algum mérito e deleite, que pode, por sua vez, evocar sentimentos e sensações que se assemelham à própria vida?”

     Então, nas páginas de todo o livro, temos um relato preciso dos dias da vida de Jane que compreendem o intervalo entre os anos de 1800, próximo ao seu 25º aniversário, até o ano de 1817. Seu foco principal abrange uma coletânea de histórias meticulosamente alteradas e sucessivas sobre um cavalheiro que Jane conheceu nesta época, se apaixonou profundamente e protegeu com toda sua alma a pouca privacidade que tiveram, devido às circunstâncias em que viviam.



“...como alguém pode esquecer o que se tornou parte de sua própria alma?”

     Em suma, a vida de Jane não foi nada fácil. Ela sempre teve uma paixão pela escrita, principalmente de cartas. Também tentou escrever sobre o amor, mas como escrever sobre algo que não era totalmente conhecido por ela? Um amor juvenil ou apenas um flerte não seria suficiente. Jane precisou viver o amor, sentir na pele... e então seus sentimentos ganhariam vida em pena e tinta para escrever os livros que até hoje encantam e fascinam tantas pessoas.

     Suas memórias trouxeram as aflições de uma mulher e não mais de uma jovem (como demonstrado em Amor e Inocência), que tiveram início quando seus pais resolveram abandonar seu lar em Steventon e mudar para Bath. Já tendo que suportar a falta de paz daquela cidade, Jane teve ainda que ser forte com o adoecimento e morte de seu pai, que a colocou junto com sua mãe e sua irmã Cassandra em uma situação de completa miséria, sem uma casa pra chamar de lar. Por dois anos elas viveram dependendo de acolhimento e caridade na casa de parentes, irmãos e cunhadas, e o mais próximo que Jane chegou de escrever foi enquanto contava histórias para seus sobrinhos.


" - Você tem um dom, Jane. Não se esqueça disso."

     Confesso que estou me segurando aqui para não contar, mas é que essa história merece ser lida e relida inúmeras vezes!! E eu preciso deixar um pouquinho de curiosidade para despertar a imaginação de vocês...

     Acho que já mostrei que a vida dessa mulher não foi fácil, mas preciso ressaltar que ela foi muito querida por sua família, principalmente por seu irmão Henry. E por falar nele, é durante um passeio que Henry convence Jane a fazer até Lyme que ela simplesmente escorrega em seu possível “amor de uma vida inteira”... quem é ele? Tudo bem eu conto pra vocês!

     Este é o Sr. Ashford, Frederick Ashford...  herdeiro das terras de Pembroke Hall em Derbyshire, ao norte da Inglaterra. Um homem de traços fortes, viril, que esbanjava honestidade e sensibilidade. Um homem que talvez desse valor ao amor em sua legítima definição, mesmo ela sendo tão abstrata. Se eu já me apaixonei por ele em 5 minutos, quem sou eu para julgar os sentimentos de Jane?? Agora, como essa história se desenrola, eu vou deixar pra vocês descobrirem sozinhos...


" - A escolha é tudo que temos, mamãe - afirmei, enfática - Se algum dia eu me casar, será por amor. Um amor profundo, verdadeiro e apaixonado, baseado em respeito, estima, amizade e uma convergência de mentes."

     Já nas minhas considerações finais, preciso comentar sobre os momentos que eu mais amei, e é claro que a grande maioria deles está relacionada com as atitudes de Jane, seu silêncio quando necessário, sua sensibilidade, sua paixão pela musica, pela escrita e também pela natureza, sua honestidade e fidelidade à família e até seus momentos de ironia, tão presentes em suas obras. E finalmente falando sobre a história da construção de suas novelas... ai Jane! Meu coração chega a explodir ao ver tanto de sua própria vida em suas páginas imortalizadas.
     
     Jane e Cassandra mostram inúmeros traços da personalidade de Marianne e Elinor de Razão e Sensibilidade... assim como a conduta e comportamento de alguns clérigos foram o suficiente para construir um Mr. Collins em sua total chatice de ser, me fazendo rir e chorar ao mesmo tempo. Bem como alguns lugares do tipo... Pembroke que muito remete à Pem... berly... tanto em nome quanto em imensidão e riqueza. Isso foi a segunda coisa que eu mais gostei a história. E pra finalizar, Chawton House. O que dizer dessa casa ainda mais quando eu já estive lá? Sabendo que foi naquela mesa que Jane voltou a escrever depois de tanto tempo... e que muitas histórias foram contadas, criadas e reinventadas... simplesmente não tenho palavras, só amor! (Quem quiser saber mais sobre minha visita à Chawton House e o Jane Austen’s House Museum, clique aqui)  


"Com a mente ainda se recuperando da desventura, me virei para fitar meu salvador e me percebi olhando para o par de olhos azuis profundos mais vívidos e inteligentes que eu já havia visto."



" - Jane não quis ser desrespeitosa. Acho que ela estava escrevendo mentalmente outra vez."

     Mais do que recomendado esse livro... e eu já estou arrumando lugar na minha lista de releituras pra encaixá-lo, por que vale a pena!! Ahh... uma coisa muito importante! Preciso destacar que este livro trata-se de uma história de ficção com traços biográficos de Jane. Sua história existe, mas traz muitas lacunas, e a autora soube preenchê-las de forma esplêndida com sua imaginação ativa e iluminada... mas, como diz o próprio sobrinho de Jane, “... se eu acreditar na sua história como a contou, ela será tão boa como se fosse de verdade?”... meu coração acredita que sim!

...o restante, fica para a imaginação!



As Memórias Perdidas de Jane Austen
Syrie James
Editora Galera Record – 2013
320 páginas
ISBN: 978-85-01-08861-1
Por Izabela Elias


Um Comentário

  1. Terminei esse Livro essa semana e confesso: ainda estou com uma sensação de que a história não terminou...melhor, eu não queria que terminasse assim..
    Jane foi maravilhosa em vida, amou, acolheu, sorriu quando queria chorar, chorou quando queria morrer. Era orgulhosa e cheia de princípios (amo essa personalidade íntegra dela), corajosa e cheia de atitude!!
    Te amo Jane...de todo meu coração e espero que vc tenha sido muito feliz!!

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